sexta-feira, outubro 07, 2005

É triste, mas sabido:(.

http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=593257

42 comentários:

lobices disse...

...muito triste, Júlio, muito triste...
...passamos uma vida a gritar pela qualidade de vida e esquecemo-nos de gritar pela qualidade do momento da morte!...
abraço

TR disse...

Ainda que loge da morte ainda se sofre muito com a dor. A dor é uma questão que já não faz qualquer sentido. Mas se sabemos que estamos a anos de distância de uma série de países com os quais nos gostamos de comparar, qual é o espanto? É triste, sim!

Anónimo disse...

Se não ‘o tema’ mais importante da sociedade urbana, certamente um tema dos que, com mais razão, provocam dor, vergonha e pânico, atendendo a que "Quando uma pessoa está doente, a sua família também está e precisa de apoio", como diz a presidente do Movimento de Cidadãos Pró-Cuidados Paliativos.

Quem acompa(nhou) doentes que precisam de cuidados para aliviar o sofrimento, sabe do desgaste emocional a que são sujeitos os seus familiares e amigos e de como nada é ‘simples’ nesta rede de ‘padecimentos’, contagiante.

de©

Anónimo disse...

Como é que um país que não se preocupa com quem nasce, poderá preocupar-se com quem morre ?

Mas também não há crise pois estamo-nos a transformar, muito rapidamente, num país de zombies...

_Stardust_ disse...

So sad...
Mas além de mais infra-estruturas e toda a logística associada à questão, é preciso que todo o pessoal envolvido com pacientes deste tipo tenha o objectivo de lhes dar essa qualidade. Compreendo, por experiência familiar, que não é fácil para um médico (enfermeiro, auxiliar) envolver-se com todas a vidas, as histórias de vida, que por eles passam e deixam, por si só, a sua marca. Mas, ainda assim, é-me mais difícil compreender que essas vidas sejam tratadas como números de cama, tantas vezes sem quarto. Mais que camas, mais que quartos, mais que morfina... vontade e humanidade, precisa-se! :(

Manolo Heredia disse...

Há cerca de 2 anos, um amigo meu médico e psicólogo, estava indignado com o facto de o Governo de Angola não fazer nada para atacar a Sida naquele país, que tem uma das maiores incidências dessa doença.

Respondi-lhe que Angola tem + de 11 milhões de habitantes, 30% dos quais são portadores do vírus, dos quais 1/3 precisa de cuidados médicos. Sabendo que o tratamento adequado de um doente destes custa cerca de 1.000 contos por ano, o que estava em causa eram só mil milhões de contos por ano (todos os anos)! E estava tudo dito!

A despenalização do aborto vai implicar que atraso nas filas de espera para as salas de cirurgia? Em França o aborto faz-se há muitos anos nos hospitais do Estado, mas a França… é a França… Ou será que o Estado vai conseguir arranjar o reforço de verba para colmatar o aumento de procura previsível? O Sócrates?

Nos anos 70 cantava-se pela “Habitação, Saúde, Educação…” e dava-se como exemplo o Sistema Nacional de Saúde Inglês! (porque eu mereço… diz hoje o anúncio!).

Demagogia, Demagogia, Demagogia!

O único direito que nos resta é o Direito à Indignação (a desabafar)! Que é o que o Prof. Está a provocar… Não havia necccesssidade!

Anónimo disse...

Professor:

-A linda voz da sua mãe.
-o notável filho que gerou.

-os ideais republicanos que quiseram desatar os povos de servidões milenares.

-O ideal de não querer atar um ser humano à fraccionária condição uterina, criminalizando-o.

Tudo coisas lindas que merecem respeito e louvor.

andorinha disse...

Só cinco em cada cem portugueses têm "qualidade" ao morrer.
É triste, sem dúvida, mas vamos sempre bater no mesmo - é este o país que temos.:(
Concordo com o comentário de dec (5.43).
Retive também especialmente a frase "Quando uma pessoa está doente, a sua família também está e precisa de apoio".
Mas é isto tido em conta, mesmo pelos profissionais de saúde? Parece-me a mim que não.
Louvo as honrosas excepções.

Carlos Sampaio disse...

"Eles falam da morte como tu falas de um fruto". Les Marquises. Jacques Brel.
Nós não sabemos falar sequer da morte, muito menos morrer.

CLIK disse...

onde está a dignidade e o e o sentido da vida nestes momentos!
com mortes assim fico a favor da eutanásia!
saudações bloguianas!

Anónimo disse...

Estes assuntos não debatidos, muito menos tratados, porque não devem ser angariadores de votos. Por causa disto, da dor, do sofrimento, ocorre-me uma questão também pouco falada entre nós: a eutanásia!

Anónimo disse...

Boa noite Murcons.
Os cuidados paliativos, se analisarmos bem as coisas, até estão inscritos na Constituição. Porque tem a ver com respeito pelos dieitos humanos e a dignidade da pessoa humana. Tanto na hora da morte como em vida. Há muito boa gente a dar o corpo ao manifesto pela causa, mas é insuficiente. O próprio Estado deveria mentalizar-se para estas questões. Porque cada vez acho mais que é uma questão de sensibilidade de quem está no poder, mais do que qualquer discussão sobre prioridades. Tanta coisa se faz neste país que não é prioritária com o Estado como patrono...
Os familiares deveriam ter um acompanhamento eficaz. Porque são parte importante da situação de um doente, sendo eles tb. doentes. Mas esta questão não está institucionalizada. Depende-se, sempre, da sensibilidade de quem rodeia o doente e os familares. Não há uma estratégia de intervenção definida.

Fala-se em humanização dos serviços na saúde. Mas o que se vê é que essa humanização é aplicada por pessoas com formação moral e cívica superior e não por estratégia definida, que seria o ideal.
Eu própria tive uma experiência deste género como mãe de uma criança em risco de vida. Acompanhei a minha filha nesse período terrível, passando todas as horas que o Hosp. me permitia junto dela. Mas senti-me sempre só. Nem para a informação clínica que constava na incubadora eu podia olhar. "Os pais não compreendem o que está aí escrito de depois arranjam confusão!" era o que nos diziam! é incrível, não é? Ou tínhamos sorte com os turnos das enfermeiras, sendo que algumas nos davam uma grande apoio, ou estávamos entregues à nossa sorte. Qualquer informação era mendigada e nem sempre esclarecida.
Foi uma experiência que nos levou (a mim e a todos os pais que passam por isto) aos nossos limites. E quase nunca havia uma palavra, um esclarecimento...E estou a falar de um hospital novo, com enfermeiras jovens e médicas também...

Quanto À dor, penso que a mentalidade vigente é "é assim a vida; Às vezes sofre-se..." Mais do que tudo,penso que ainda não há verdadeiras estratégias, políticas ou apoios para os cuidados paliativos, para amparar a dor e a morte por questões de mentalidade.

Pamina disse...

Boa noite,
Pois é triste e, com os novos cortes orçamentais anunciados, não é de esperar grande melhoria.
Para construir uma rede abrangente de "lares-hospitais" (ou mesmo serviços em hospitais existentes) que possam receber esses doentes e implementar equipes especializadas de apoio domiciliário que ajudem os que ainda permaneçam na residência de familiares, para além de vontade política, é necessário pilim, muito mais pilim do que este Estado praticamente falido poderá dispender.

Até depois.
Bom fds para todos.

Manolo Heredia disse...

Michel Foucault

Lei, Disciplina e Segurança
Trinta anos depois de "Vigiar e Punir"

23, 24 e 25 de Novembro

Instituto Franco Português
Av. Luís Bivar, nº 91, 1000 Lisboa (telf: 21.3111400)

Algum murcon está a pensar ir?

Vera_Effigies disse...

Não consegui entrar na notícia, com pena minha, mas pelo que li nos comentários acho que apanhei o suficiente.
Vivo de perto com duas pessoas doentes, uma, com doença degenerativa (Alzheimer)outra com doença crónica, por sinal, as pessoas que me são mais queridas.
Trabalho, apesar de andar sempre a correr o tempo todo. E mesmo assim sinto remorsos porque não tenho muita paciência e tempo. Abdiquei de tudo, não saio, não tenho fins de semana ou férias há cinco anos. Dou umas escapadas de horas, que aproveito tendo em conta horários de medicação e refeições.
As famílias na doença afastam-se, só um é responsabilizado "Penas que não se vêem não se sentem".
Como queremos que os governantes sejam sensíveis se nem os nossos o são?!...
Os valores que perderam-se por comodismo ou por interesses.
Venho á internet manter a minha sanidade mental. Aqui sinto-me viva "vou lá fora cá dentro" sempre no meu posto. Leio bastante. Obrigada Mahatma pelo seu blog e pelos seus livros, afinal também fazem parte das minhas "fugas":)Li umas páginas á minha mãe dos "Estilhaços" consegui-lhe outra fã :)
Um abraço a todos

MJ

Vera_Effigies disse...

Eu peço desculpas o meu português saiu um pedacito macarronico.

Sergio Figueiredo disse...

Este tipo de morte só ocorre porque levámos a mortalidade excessivamente longe...inexplicavelmente, ninguém deseja a morte por suicídio ao primeiro sinal de morbilidade.

Anónimo disse...

lusco-fusco,

Eu também não entrei na notícia, mas "entrou-me" o seu comentário. É admirável o que conta, nestes tempos de "curtição" e hedonismo alarve. Ainda bem que ainda "há gente no mundo", contrariando o Álvaro de Campos. Olhe, há mais gente que pode sair pouco de casa e que também usa a janela da net. A sua qualidade mental está óptima, minha amiga. Não direi o mesmo der tantos, que não têm a sua coragem, abnegação e qualidade anímica.
Grande abraço.
Sherazade

PortoCroft disse...

Caro Prof. m8,

Em primeiro lugar, quero o Livro de Reclamações. Este é um "post" mandrião, carago. ;)

Sobre a notícia do jornal, o que se me oferece dizer é que a nossa costela moura, continua a marcar presença.;) A forma como encaramos a morte, deve ter que ver com o nosso passado "cross-cultural" ao sul. Recusamo-nos a pensar nela e em tudo o que lhe está relacionado, como se não fosse a coisa mais natural desde que há vida. E se não pensamos, como havemos de planear uma coisa que queremos esquecer que será o nosso fim último? Outros povos, olham a morte de forma tão natural que, no almoço ou jantar volante que, muitas vezes acontece, se discute de tudo menos a vida do falecido. E, lágrimas, só pelos Red Sox. ;)

Continuo convencido que o Sistema Nacional de Saúde, tendencialmente gratuito, não só é possível como a melhor solução para Portugal. Tem custos? Claro que sim. Mas, analisando esses mesmos custos, muito pela rama, não sairá muito mais caro ao país, a imagem miserabilista que dá ao mundo a que se ufana de ter dado outros mundos?

E a saúde e bem estar dum povo, podem ser avaliados pelos seus custos? ;)

Manolo Heredia disse...

PortoK,
Seja realista, peça o impossível!

PortoCroft disse...

Manolito,
Na vida não há impossíveis. Há obstáculos.;)

Gabriela disse...

Júlio,

Quem não tem cão caça com lebre, e quando se ama alguém a quem leram uma sentença de morte vira-se tudo o que resta na mesa para conseguir que a lebre vire cão.

E eu sei do que estou a falar. Não sou a única, mas sei do que estou a falar.
E se ontem tinha pouco, muito pouco para lhe dizer, hoje tenho talvez um pouco mais, assim me queira ouvir.

O meu marido morreu em casa abraçado a mim, eu que nunca tinha sentido no meu peito a última batida do coração noutro peito.
Oxigénio, soro, durogesic, fraldas, cama articulada, colchão anti-escaras, tudo estava a postos no quarto ao lado. Mas só o durogesic conheceu o nosso quarto.

No artigo que me obrigou a ler alguém diz que "morrer no corredor de um hospital é pavoroso". Não sabe do que está a falar.

Pavoroso é que o leito onde esperamos por ela seja um outro qualquer que não o nosso.
Pavoroso é perspectivar num qualquer local que nos é desconhecido esse momento único de verdade e entrega que se sente para breve.
Pavoroso é o tempo que medeia a tomada de consciência de que o fim se aproxima e a tranquilidade que emana de quem sabe morrer.
Pavoroso é assistir ao espectáculo da ânsia de quem quer curar-nos sem ter a menor noção de quando deve parar.
Pavoroso e cruel é estar-se preparado para morrer e ter medo daqueles que têm na mão os milagrosos de que dependemos para a tranquilidade na espera.
Pavoroso é que tudo seja pequeno, sem pais mães filhos filhas amantes amigos.

E então, morrer no corredor de um hospital já não é pavoroso, é ouvir a própria alma a gemer num leito de pedras e ainda cheirar-lhe o sangue.

Anónimo disse...

Não há impossíveis, não. Olhem o bispo do nordeste brasileiro, nove dias em greve de fome e já a levar ralhete do sinistro Vaticano, por se opor à "trasfega" do rio S.Francisco -afluente do Amazonas-, para favorecimento energético e que ia lançar na miséria ainda maior, milhares de nordestinos? O presidente Lula adiou o projecto.
Destes bispos precisavamos nós e não de uma dúzia de pançudos de barbela farta.

Su disse...

Para quem não consegue entrar e ler, resumidamente é isto q é dito pela presidente do Movimento de Cidadãos Pró-Cuidados Paliativos:

"Dos 105 mil portugueses que morrem anualmente, mais de metade precisa de cuidados para aliviar o sofrimento, embora só cerca de cinco por cento beneficie daquele tratamento antes de morrer"

"Os cuidados paliativos não se fazem com camas, mas sim com profissionais"

"Morrer no corredor de um hospital é pavoroso"

"Quando uma pessoa está doente, a sua família também está e precisa de apoio"

é triste, pq infelizmente td o que é dito de uma forma ou de outra já foi sentido por todos nós...o que mais triste é....
jocas maradas e tristes de maradas

Anónimo disse...

É inexplicável que em tantas áreas estejamos tão longe do normal no mundo occidental, especialmente tendo em conta que não é preciso inventar nada, basta COPIAR os países nossos vizinhos. A arte de copiar tão desenvolvida no nosso sistema de ensino pela nossa juventude e no entanto tão pouco usada pelos nossos governantes! Inexplicável! :)

Anónimo disse...

Inch'Allah

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Anónimo disse...

...
Somos do tempo de viver aos molhos
Para morrer sozinhos.


Reinaldo Ferreira

P.S. Triste, sujo e frio este acabar nuns cuidados intensivos ou num qualquer corredor de hospital, ouvindo os gritos lancinantes dos que ainda se agarram à vida, sem... e, sobretudo, sem uma mão quente na nossa a provar-nos que valeu a pena gerar outras vidas.

Anónimo disse...

manolo h. 11:38
presente

Anónimo disse...

lusco_fusco 12:08
lembranças

Anónimo disse...

gabriela 2:28

como a respeito
lembranças

lobices disse...

...ao ler ali o comentário da lusco-fusco, lembrei-me do que escrevi na net em Fevereiro do ano passado, exactamente sobre o problema da assistência familiar na doença... foi uma experiência tremenda mas que também me ajudou a crescer mais um pouco...
...crescemos sempre mais com tudo o que vamos recebendo da vida e do que formos capazes de aceitar... não foi fácil e, ainda hoje com uma mãe de 90 anos não é fácil... por isso, sei o que é estar nessa situação...
...acreditem que só quem passa por esses momentos lhes sabe dar o devido valor, o valor que os restantes membros da família não dão e do qual se demitem tal como o nosso puro Estado da Nação se demite dos seus deveres e da sua obrigação de tratar daqueles que um dia o serviram...
...desculpem lá o bold mas é para dar mais visão ao meu grito
...
Ele envelheceu um pouco nestes últimos tempos; nota-o quando olha o espelho ao desfazer a barba; interessante é notar também os pêlos brancos do peito; também não é para admirar. Mas a vida é assim, a vida prega partidas com as quais não se conta. A vida poupou-o durante muitos anos mas nestes últimos dez não foi fácil.
Começou pela falência da sua empresa e os problemas inerentes e subsequentes deram chatices e as pressões provocaram danos; mais tarde, foram problemas do foro afectivo e a seguir problemas de saúde. Passou alguns maus bocados. Quando tudo parecia estar “resolvido” um novo factor destabilizante surgiu para lhe provocar novas dores de cabeça. Há já mais de um ano que ele vive só na companhia de duas velhinhas de 90 anos, sua mãe e uma sua tia; esta já se encontrava acamada mas tudo se ia resolvendo de forma consertada entre ele e sua mãe; porém, eis senão quando, sua mãe também cai doente mas sem doença, “cai” de cansaço, de velhice, de tempos demasiados de pesada vida ao longo de muitos e muitos anos.
Ele é filho único e não tem mais ninguém a quem recorrer; tem os filhos mas estes estão um pouco longe e têm as suas vidas; sempre que podem e tal se torne necessário, eles o ajudam em casos específicos. No entanto, para o dia a dia, ali presente, ele está só.
E sente-se só.
Face aos acontecimentos, teve de criar uma rotina, pois os tratamentos, as medicações e outros factores a isso obrigam; assim, levanta-se por volta das sete e trinta; abre as janelas para que a luz ilumine o ambiente; liga o fogão; prepara a tia para a higiene matinal; depois prepara o pequeno-almoço para ela e termina com o refazer da cama e da limpeza do quarto.
Segue-se idêntico tratamento para sua mãe ainda que não esteja incluída a higiene na medida em que ela ainda a consegue proceder de moto próprio.
Depois delas “arrumadas” ele vai “tratar” de si mesmo.
Por volta das dez da manhã sai e vai fazer as compras que entende necessárias e toma o café da manhã (vício de longos e longos anos).
Regressa a casa e vai ao computador ver o que se passou durante a noite; lê os mails e escreve alguma coisa, pouca é certo pois é necessário ir fazer o almoço.
Tem de fazer as “coisas” como faz no pequeno-almoço: primeiro trata da alimentação da tia e depois almoça ele mais a mãe; findo o almoço segue-se o arrumar da mesa e dos demais acessórios e o lavar da loiça. Por volta das catorze e trinta está “livre” e vai sentar o corpo para descansar a sesta.
A rotina regressa por volta das dezoito horas e segue os mesmos termos até às nove.
É nesta altura que ele se senta em frente do seu portátil e tenta distrair os seus nervos; nervos que se vão deteriorando não por um cansaço físico mas por um sentimento de impotência perante aquilo que a vida lhe deu; sente-se cansado por “dentro”. Então, fala dos “seus” pardais, do gato e do cão, do seu quintal e do sol que se põe sempre a oeste; fala das suas rosas, das nuvens e do vento leste; fala de tudo, menos dele e do “lobo” que há dentro dele… Fala de amor, do amor, de como amar sem posse nem destino; fala de amor incondicional e não o entendem; fala de voos palermas e escreve alguma poesia… Gosta de escrever contos, pequenos textos e alguns pensamentos; gosta muito de fotografia e gosta de as legendar. Fala sobre palavras… ama-as e ama as pessoas…
A resolução do problema passa pelo provável internamento da tia, mas tudo leva o seu tempo neste burocrático país de papéis e petições. Entretanto tem de ser assim.
Às vezes nota-se nele um desânimo e uma tristeza latente. Mas sente-se que a tenta ultrapassar; vê-se muitas vezes um sorriso aberto nos lábios e os passeios pedestres que ele faz ao meio da tarde servem para desanuviar a tensão acumulada durante o dia.
Diariamente lhe perguntam como é que vão as doentes; invariavelmente e a sorrir, responde sempre da mesma forma: “Obrigado, as minhas velhinhas estão bem!”

...
...um bom fim de semana
abreijos

LS disse...

o que faz as instituições são as pessoas que nelas trabalham e não somente os melhores equipamentos.bom fim de semana

andorinha disse...

Paula,
Essa situação que contas é terrível e recorrente, já tenho lido várias reportagens sobre isso.

Também a mim esse texto me toca.:)
Bom fim de semana

Anónimo disse...

PortoCroft 1:46 AM

"Continuo convencido que o Sistema Nacional de Saúde, tendencialmente gratuito, não só é possível como é a melhor solução para Portugal."

100 % de acordo !

Vera_Effigies disse...

Quanto ao meu comentário anterior não o fiz por ser bonito. Faço o que faço porque sinto que deve ser assim, não condeno quem não o faz. Nem gosto que me louvem, isto não tem louvor, é viver e ajudar a viver como me ajudaram a mim.
Eu já tive um problema de saúde grave. Tive todo o apoio de quem hoje está afastado e de quem tenho sob a minha protecção, nunca pensei em matar-me, era fácil demais e tinha uma filha para criar com 7 anos (separei-me com 27).Fui sujeita a tratamentos pré-históricos feitos por profissionais que deviam ser mais bem formados (queimaduras com choques, queimaduras com azoto) e não eliminou o problema. Por iniciativa própria e a conselho de um amigo cirurgião recorri a um dermatologista no Porto, um senhor Excelente que não quis marcar-me mais que o que já estava e me mandou para um cirurgião plástico, ambos médicos do instituto e que ajudaram a que eu lá entrasse.
Já encontrei muito bons profissionais e tenho que o dizer. Mas os que não o são deviam reciclar-se, ganhar dinheiro não devia ser a qualquer custo. Muitas vezes a cura termina nas mãos deles. De 91 a 97, fiz radioterapias, sem resultados a idade era pouca (31 anos) e por ultimo cirurgia. Sinceramente eu queria era ficar sã. Não me interessava se ficava marcada ou não, se aquele tratamento iria prejudicar os seguintes, eu não queria seguintes, queria ficar bem. Trabalhei sempre, com o nariz em carne viva das queimaduras, usei horas de serviço para a quimioterapia. Deixar de trabalhar, mesmo meter atestados levava-me fatias que me eram precisas, significava não poder cuidá-las e cuidar da minha saúde.
Mas... Parece tão longínquo que nem parece estória minha... lol
Não ME SINTO NADA DIMINUIDA, PELO CONTRÁRIO, SINTO-ME VIVA. Só parece que bati de frente(tou a brincar, nota-se pouco) sinto-me bonitona, apetecivel....lol e cheia de boa disposição (tenho as minhas quebras), mas uns encontros comigo resolvem-nas. Não me sinto infeliz. Apenas triste, ás vezes, porque não posso resolver o impossível.
Acho que realmente o país apoia pouco as pessoas com problemas de saúde ou com pessoas a cargo com problemas desses. Mas convenhamos que há muito fingimento por aí. Há falta de fiscalização e muitos usam de benesses sem que tenham direito a elas.
País mal formado valores na lama. Um salve-se quem puder.

Vera_Effigies disse...

peço desculpas onde se lê quimioterapia deve ler-se, RADIOTERAPIA. Nada que se compare, felizmente para mim.

Anónimo disse...

Para Lusco-Fusco,

Nem só o direito à indignação, mas também ao contentamento, quando detectamos coisas boas e harmoniosas. LOUVAR nada tem de errado.Se o estímulo merece.

Para o sheik Abddulah (deve ser homem, pois na sua Cultura as mulheres não têm direito a opinar)

Não percebi nada dos seus oitos. Deitadops ainda podiam ser o símbolo do infinito...
E como isto está dramático, termino com uma anedota hard-core, a propósito do número oito.

Um homem de boa moral e melhores famílias, quis arranjar noiva virgem e submissa. Foi buscá-la a um excelente colégio interno, de religiosas. Durante a lua de mel, verificou certas competências eróticas na esposa. À pergunta dele, sobre essa competência, apesar da comprovada virgindade, a novel esposa respondeu:
É que as Irmãs enfiavam-nos um lápis no cú e obrigavam-nos a escrever, nessa posição, o número 8888.

anónima

Anónimo disse...

de de© para
lusco_fusco 3:21 e 6:40

"lol e cheia de boa disposição (tenho as minhas quebras), mas uns encontros comigo resolvem-nas. Não me sinto infeliz. Apenas triste, ás vezes, porque não posso resolver o impossível."

Viva, viva! com toda essas emoções que a percorrem tão paradoxal e esplendidamente e que me estimularam tanto - e não se afobe a resolver nada, nem o possível nem o impossível - já JMV disse que é preciso, apenas, 'continuar'.

Viva e muitas lembranças

Vera_Effigies disse...

de(desculpe n saber fazer o simbolo)
Obrigada.
Há uns dias que a minha cabeça andava muito cheia, uma preocupação que me pesava demais. Ontem iluminou-se o meu caminho, não resolvi como queria, mas... Acho que estou a dar conta do meu recado. Eu acredito em Deus a fé ajuda.
Sou bem disposta por natureza,nunca mostro na rua a minha vidita, só mesmo distraída sai o meu sorriso, defeito de fabrico :)
Um abraço

naoseiquenome usar disse...

... pOIs!!!!... Aos que nascem, nas Maternidades dos hospitais, oferece-se flores e largos sorrisos!!!!
... aos que estão à beira da morte, agonizando, espera-se, que acabe deepressa, para poder comprar flores para depositar na sua sepultura e, a seguir, fazer de conta que se tem um pouco de paz!
Esta vida é assim. quer queiramos, quer não.

amok_she disse...

"Quando chega a época de férias, muitos filhos ou parentes próximos dos idoso(...)Eventualmente, no fim das férias, os 'simpáticos parentes' voltarão para resgatar os seus idosos...."

Esta é mais uma daquelas em q as pessoas lêem no ar...em geral nem lêem, ouvem...no ar! Mas, se se quer repetir o q se ouve, há q fazê-lo com algum rigor sob pena de se andar a propagar...patetices, no mínimo!...q tb. é assim q costumam começar (e correr) os boatos!

Este caso, a ter acontecido e nem o duvido, ñ relata uma situação. Ñ basta conhecer-se o amigo da mulher do mecânico da oficina onde a cunhada daquela amiga q namora com...pois!... ñ chega isso para se ter criado uma situação e ainda mais, situá-la em Lisboa!:->

Agora o q sucede, sim!, é q há casos de idosos - mas esses casos ñ chegam para formar uma situação caracterizadora da população...de Lisboa!:-> - em que os idosos são...pura e simplesmente abandonados após um internamento, pois qd se lhes é dada alta ñ aparece ninguém!!!...nem no fim das férias os vão buscar! ...simplesmente pq as pessoas q assim procedem, em desepero de causa, ñ vão de férias, simplesmente pq as ñ têm!...algumas vezes, inclusive, aparecem referindo situações de absoluta incapacidade - de habitação, económica, humana - para tomar conta do idoso no estado em q está ao sair do hospital...Mas se se quiser referir os idosos colocados em "casas de repouso" q, aos poucos, vão pra lá ficando com as visitas cada vez mais espaçadas...isso já é uma outra realidade desta nossa sociedade de usar e deitar fora...

Não se terá dado o caso de a notícia, lida ou ouvida, se referir aos animais(zinhos) d'estimação???...aí é q sucede mt nas férias um crescendo de anímais abandonados...na rua!, mas claro q ninguém os volta para buscar...pq, entretanto, já se foram!:->:->:->

amok_she disse...

naoseiquenome usar disse...

... pOIs!!!!... Aos que nascem, nas Maternidades dos hospitais, oferece-se flores e largos sorrisos!!!!
... aos que estão à beira da morte, agonizando, espera-se, que acabe deepressa, para...
Esta vida é assim. quer queiramos, quer não.

1:16 AM


...ai, ai...estas conclusões...quem espera q acabe depressa, qd isso sucede!, ñ será antes para acabar depressa com o sofrimento em q a pessoa está?...é q em geral as pessoas ñ estão preparadas para lidar com a morte dos entes queridos e, mesmo a vê-los sofrer, espera-se q o fim chegue o mais tarde possível...eu sempre achei isso um egoísmo do mais puro, mas isso sou eu q sou pela eutanásia...

E a vida nc é assim...quer se queira, quer não!...a vida é tb e em grande medida o q nós quisermos q seja...