quarta-feira, dezembro 10, 2014

:(.

Durante os namoros, 25% dos jovens têm comportamentos abusivos e 22% já foram vítimas deste tipo de situação. As bofetadas, insultos e difamações são as agressões mais comuns, mas em muitos relacionamentos juvenis também se assiste a tentativas de estrangulamento. Os dados constam de um estudo da investigadora e docente da Universidade Fernando Pessoa Madalena Sofia Oliveira que será divulgado em breve.
Com o título 'Transmissão intergeracional da violência: o contexto familiar, as relações de intimidade e as crenças dos jovens', o trabalho, realizado ao longo de três anos, assenta em inquéritos a 1.500 estudantes de 57 escolas do ensino secundário e profissional, entre os 15 e os 20 anos, de 26 municípios do Norte e Centro do país. 
Nos inquéritos, dos jovens com relacionamento violentos, entre 38% a 42% indicaram os insultos e as difamações como os actos mais praticados. Entre 30% e 40% sinalizaram a bofetada e entre 9% a 15% referiram a tentativa de estrangulamento.
Segundo a autora, estes comportamentos resultam em grande parte das cenas de violência doméstica que assistem no seio da família. “Os jovens expostos a ambiente familiar violento são potenciais agressores”, diz Madalena Sofia Oliveira no estudo, concluindo que “a violência transmite-se de geração em geração”.
O estudo, a que o SOL teve acesso, refere que metade dos 1.500 jovens admitem ter assistido a insultos (56%) e a gritos (47%) em casa dos pais. Além disso, 255 confessam que, no seu contexto familiar, viram uma pessoa atirar um objecto contra outra e 210 testemunham alguém a bater noutra. 
Nas famílias portuguesas, de acordo com os dados recolhidos, são também comuns as atitudes coercivas: do total de inquiridos, 33% assistiu a um dos elementos do agregado familiar a ser proibido de sair de casa e 14% registou alguém a ser obrigado a trabalhar arduamente e a ser forçado a guardar segredo de um acontecimento.
Para concluir que a violência é mesmo transmitida entre gerações, a investigadora cruzou os dados das agressões nos namoros e da violência doméstica com as crenças dos jovens sobre estes comportamentos. E verificou que 53% acha que os pais batem nos filhos para “os corrigir” e 22% considera que as pessoas “merecem apanhar para aprender”. Ao mesmo tempo, 73% concorda que “para uma pessoa magoar outra tem que haver um motivo”, enquanto 30% considera que a “violência é um método de resolução de um problema”.  
'Acham normal o namorado controlar telemóvel'
Apesar de referir que os agressores são de ambos os sexos, o estudo identifica as jovens mulheres como as maiores vítimas.
A forma como a juventude encara a violência está, aliás, a preocupar a Associação Democrática de Defesa dos Interesses e da Igualdade das Mulheres. “Os jovens desvalorizam a violência. E acham natural que o namorado controle o telemóvel e a maneira de se vestirem”, diz ao SOL Carla Mansilha Branco, presidente desta associação, segundo a qual 10% das 27.218 queixas de violência doméstica apresentadas em 2013 às autoridades são de menores de 16 anos. 
Mansilha Branco lembra que, segundo as estimativas, “um em cada quatro jovens portugueses” é vítima de violência no namoro. “É um problema de saúde pública”, alerta, explicando que o cyberstalking (assédio e perseguição através da internet) é um dos abusos mais praticados nas relações juvenis. Dados da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) confirmam: 75% da população universitária já foi vítima de cyberstalking. A solução, defende Rosa Saavedra, da APAV, é apostar na formação, especialmente na escola.
“As vítimas de uma fase de namoro abusiva tendem a acreditar que tudo melhora no casamento”, frisa Mansilha Branco, lembrando que, em vez disso, se assiste a uma escalada da frequência e gravidade das agressões, como prova o facto de este ano já terem morrido 35 mulheres por violência doméstica, mais duas do que em 2013.

26 comentários:

Anita de Tulp disse...

“um em cada quatro jovens portugueses” é vítima de violência no namoro. “É um problema de saúde pública”. Estou chocada com a enormidade, numa fase de namoro ( chama-se namoro com estes dados) . E muito triste. Como se quebram estes ciclos?
Ana

Impio Blasfemo disse...

Este é um problema grave que merece um reflexão séria. Há um ditado popular que afirma" quem sai aos seus não degenera". Tal parece ser o que o estudo demonstra, infelizmente!
É daqueles casos onde seria muito bom negar o tal ditado popular; seria bom que os filhos que vivem em ambientes familiares violentos, por esse facto viessem a não repetir esses ambientes nas suas relações. Mas tal parece não ser o caso. Será que o fenómeno habituação faz transformar uma situação anormal em situação normal?
Será que a violência não estará associada a outras causas que a provoquem, como por exemplo alcoolismo?

O estudo em causa deve dar todas estas respostas e muito mais..

Saravá
IMPIO

andorinha disse...



“Os jovens expostos a ambiente familiar violento são potenciais agressores”, diz Madalena Sofia Oliveira no estudo, concluindo que “a violência transmite-se de geração em geração”.

Não poderia estar mais de acordo!
Transmiti esta mesma ideia, por outras palavras,claro, no Face para uma tipa que acha que a "culpa" é dos professores...

Ainda não tinha lido nada aqui.
Mas é fácil de entender que quem convive com a violência diariamente a passe a "aceitar" e achar natural. E vai perpetuando porque ser violento é de "macho":(((


Controlar o telemóvel?
Vestuário?
Tentativas de estrangulamento?
Acreditam que melhora com o casamento????????
Quando será que as mulheres abrem os olhos, porra?!

Agora vou ter que provar que não sou um robô...632...looooooooool

andorinha disse...



Impio,

Penso que disseste tudo.O conviver diariamente com a violência leva a aceitá-la como algo de "normal".
O que é um estalo ou uma bofetada?
Isso pode ser o começo da escalada.

Pode existir alcoolismo em muitas situações mas isso não pode servir de álibi ou atenuante.

Enquanto as mentalidades não mudarem vai ser complicado alterar a situação. E haverá gente que continuará a morre...:(

Abraço


Já provei que não sou um robô e vou ter que provar de novo? Esta coisa não acreditou em mim? looooooooooool

andorinha disse...


E porque também há boas notícias

Malala, a grande menina/mulher e o activista indiano Kailash Satyarthi receberam hoje o NOBEL DA PAZ!

http://www.publico.pt/mundo/noticia/malala-espera-ter-carreira-na-politica-e-ser-primeiraministra-do-paquistao-1678940


Há pessoas que fazem realmente a diferença.

rainbow disse...

Em dia de feriado da cidade:)

Sobre o post, é realmente grave a banalização da violência física e psicológica entre os jovens.

E quem não viu os "Prós e Contras" da passada segunda-feira, perdeu um momento de grande qualidade, que pode rever. Deixo aqui o link:

http://www.rtp.pt/play/p1627/pros-e-contras-xii

Abraços
(não, i'm not a robbot, que eu saiba:))

rainbow disse...

"perdeu um momento de grande qualidade que pode REVER".

LOL! Sorry pelo absurdo.
Correcção: que pode ver.

Bartolomeu disse...

Por vezes lá calha; vou no carro, tenho a "antena 1" sintonizada e... sai-me o Júlio Machado Vaz a trocar opiniões com uma mocinha de voz simpática (que me perdoe não lhe fixar o nome). Hoje apanhei-o enquanto percorria a estrada Arruda-Carregado. Até reduzi a velocidade para não chegar ao destino antes de estar concluida a rubrica radiofónica. O assunto era interessantíssimo. Metia aquilo que o professor designou por assimetria não sei o quê, que tem a ver com as partes do nosso físico que nos parecem fora de um padrão tido socialmente como ideal. Um falgêlo para os próprios, os familiares diretos, os profissionais de saúde sérios e, uma mina para os outros, aqueles que, por dá-cá-aquela-palha, vêem logo numa mama mais rechunchuda, a necessidade de um ato de cirurgia estética com ao fim de retificar um descuido da natureza.
E depois, evocam-se logo os disturbios de personalidade, os problemas de relacionamento e de auto-estima e mais uma catrefada de outras cenas que não sei a partir de quando começaram a pesar na balança da perfeição. Sim, porque no meu tempo de adolescência e de jovem espigadote o acne era uma merda, mas um gajo escarafunchava as borbulhas, ou então escanhoava-se deixando a cara num Cristo, mas as pitas estavam no mesmo barco. Ou seja, as hormonas lixavam todos sem exceção, mas, hexistia algo que se extinguiu e que ajudava a resolver as questões; existiam os tios, os amigos dos pais, os pais dos amigos e mais uma catrefada de gente que já tinha passado pelos mesmos embróglios e que, com uma palavra, sossegava todos os nossos receios, dúvidas e temores.
Existia a palavra, a palavra que circulava, a palavra que elucidava e sossegava. Gajas com uma mama maior que outra, sempre houve. Gajos com um colhão maior que o outro, sempre houve. Gajas com a patanisca mais rechumchuda que outras, gajos com o vergalho mais comprido ou mais grosso, sempre houve. Mas o facto é que todas essas diferenças nunca impediram ninguém de ser quem é, de se realizar como pessoa e ser humano, de ter uma vida amorosa de se formar académicamente ou profissionalmente, de trabalhar, de formar um núcleo familiar, de dar e receber amor, de considerar e ser considerado, de existi4r socialmente e desempenhar o seu papel.
Gosto de o ouvir Professor, gosto de reflectir sobre aquilo que diz e que transmite a quem o escuta e de cruzar o entendimento que faço das suas palavras, com a realidade social e humana que fazem parte do nosso dia a dia.
Somos seres incompletos a diferentes níveis, mas o conjunto dessa incompletude, torna-nos afinal completos dentro de um contexto existencialista. Buscamos mais e melhor, buscamos. Mas na realidade, não sabemos concretamente se buscamos algo que não tenhamos já.

bea disse...

Pois. Não encontro assim tão natural que quem vê a violência doméstica em casa – enquanto criança – a copie depois. É verdade que a estatística tem peso e o demonstra. É verdade que as pessoas têm modelos a vida toda e não apenas quando crianças (mas duvido que a violência seja o modelo que se escolhe). Mas também é verdade que quem assiste a cenas violentas sofre bastante com elas, sente imensa pena de quem é violentado – sobretudo porque em geral as mães são as que mais sofrem, ainda que o drama seja tanta vez extensivo aos filhos.

Bom, há um vector em que o estudo tem, neste caso, razão: a quem cresce em meios violentos diluem-se ou nem chegam a estruturar-se as fronteiras do dever, de bem e mal. Tudo se pode.

E não sei se a prevenção nas escolas é suficiente. Nem sequer sei se são as escolas o órgão central para prevenir e emendar um comportamento que vem, supostamente, da família.

A escola tem que formar, mas essa parece-me uma preocupação secundária ao plano da educação escolar que pretende formar e educar em contexto social amplo. E nesse sentido sempre foi contra qualquer tipo de violência.

Vejamos um mero exemplo que ouvi um destes dias no pouco que escuto do telejornal. Uma mulher vítima de homicídio. O homicida tinha acabado de sair da prisão onde cumprira pena por comprovada violência doméstica sobre a mesma mulher. Pobre. Pobre mulher.

Que raio de legislação temos que não se protegem estas mulheres nem se vigiam os mentecaptos quando são postos em liberdade?!

Que garantias são oferecidas às mulheres que os denunciam??! Mas havia alguém que duvidasse que aquele asno saía e se vingava? Ora bolas. E para que querem a escola metida ao barulho nestes casos?!

Ganhem tento. Que à escola já se pedem coisas em demasia e os professores não podem ser tudo que a sociedade por erros vários não consegue ou não quer ser.

Ou será que vão optar por umas conferências, instituir um dia nas escolas para debater o tema…fechar os olhos e achar que está resolvido. Tudo é possível.

escrevi demais.Sorry:)

bea disse...

Bolas, Bart.Tens dias. Mesmo que não aprecie muito o vocabulário, escreveste bem. O programa não sei, confio na tua opinião.

Francamente se há coisa que não entendo é por que razão agora desata toda a gente a mudar isto e aquilo de si. Bolas! Esta gente quer a meio da vida ser quem?! Bom, se tu tiveres um panarício O que eu gostava de ouvir o Raul Solnado a dizer esta palavra) numa mama ou assim noutras partes quaisquer...é melhor tratar.
Quanto ao resto, é "andar e pôr ao fumeiro".

Tanta gente desejando que não se desarranje tudo que tem, fora de querer saber se bonito se feio, se imperfeito ou assim...e aparecem estes mete nojo a inventar.

não me apetece falar disto. É uma miudagem severa esta humanidade. E ainda se há-de provar que nem identidade têm com tanta mudança. E o EU? E o si mesmo? E quero que se lixe essa gentinha, pronto.

Mudem tudo. Transcendam-se. Mas depois não venham para cá queixar.

PS: e não ofendas a Inês de Meneses. Que tem linda voz.

Bartolomeu disse...

O facto de não me ter recordado do nome da comunicadora Inês Meneses, não constitui do meu ponto de vista, uma ofensa à sua pessoa. Resulta simplesmente do facto de não possuir facilidade em memorizar nomes e nºs de telefone. E a voz da Inês é realmente bonita, equilibrada harmoniosa. Sorte tem o nosso amigo Julio por todas as semanas ter o privilégio de trocar frases com ela.

Julio Machado Vaz disse...

Bart,

Mais do que isso!, a Inês "salvou" o programa, eu estava exausto e o humor dela manteve-me à tona... Quanto ao tema, já tenho vergonha, mas amanhã volto a ele no Porto Canal. Porque é insuportável ver como o contexto cultural resiste à passagem dos anos, já não espero ver mudanças claras antes de ir fazer tijolo:(.

andorinha disse...

Rainbow,

Lá vens tu para aqui fazer inveja ao pagode:))))


"Ou será que vão optar por umas conferências, instituir um dia nas escolas para debater o tema…fechar os olhos e achar que está resolvido. Tudo é possível."

Se calhar, Bea. Quem sabe?
E como também já disse, responsabilizem-se os pais e não a escola.

E não escreveste nada demais. O que tu escreves nunca é demais. É a minha mais sincera opinião.

A Inês é uma jóia.Inteligente, malandreca,com sentido de humor, ela e o Júlio fazem uma bela dupla!



Já sei andar de bicicleta!:)))
Depois de quase 3 meses de árdua aprendizagem, algumas quedas e muitas nódoas negras à mistura, consegui!
Estou como uma criança com um brinquedo novo! loooool
Ainda não vou para o meio do trânsito, mas já me safo bem. Agora é só aperfeiçoar alguns detalhes.
É uma sensação de liberdade fantástica!
Uma bike vai ser o meu presente de Natal:))))))))))))))))))))

andorinha disse...



E não são sempre as mulheres que "salvam" os homens, Júlio?:)))

rainbow disse...


Andorinha

Pois, mas foi só uma pequenina provocação:)Lol.

Vou-te pôr a andar na minha bike no Verão!:)


Acreditam que vi hoje os "Prós e Contras" duas vezes?
É imperdível, deixei o link acima para quem quiser.
Sobre o futuro de Deus, com um painel de convidados como o Padre Anselmo Borges e representantes de outras religiões, ateus e um professor de Física.
Deliciei-me com o debate, a qualidade das intervenções e dos diálogos.





Bartolomeu disse...

Vergonha de quê, Júlio?
De contribuir, profissional e humanamente, com as suas opiniões - fundamentadas nas valiosas experiências profissionais e sociais, que possui - para ajudar pessoas que passam por situações que julgam serem redutoras da sua natureza, da sua auto-estima, da sua relação com a sociedade?!
Hmmm... Hmmm...
Pode; mas não deve.
Não ira mudar o mundo, nem as consciências tacanhas, mas contribuirá para que muitas se reconciliem com elas próprias e com o meio em que se inserem, aceitando-se e aceitando sem reservas as diferenças que são naturais em cada um.

bea disse...

Rain

É muito bom o programa sim, Rain. Já o vi não sei onde. Sobretudo gostei do nível que algumas pessoas se ocuparam em não deixar descer.

Andorinha

Parabéns:) está muito frio para andar de bicicleta, mas pronto. Quem corre por gosto...

É verdade, eu gosto da forma como a Inês ri. Dispõe. Não me lembro de quem fazia antes o programa. Acho contudo que a Inês é um marco na sua história.E tenho pena de não a ter visto na tv.

andorinha disse...


Rainbow,

Vou deixar o "Prós e Contras" para o fds. Aqui não há feriados tão cedo...lol


Bea,

Bigada:)
Frio? Qual frio? Depois de umas pedaladas não há frio que resista.:)


Vou...fiquem bem:)

Bartolomeu disse...

rainbow; sem querer desmerecer o teu comentário acerca do "Prós e Contras", pergunto-te: atentaste no sentido do título, que era "Deus tem futuro?". Pareceu-te que em algum momento algum dos convidados respondeu taxativamente à questão?
"Deus tem futuro?" parece-te ser realmente a questão que se coloca à humanidade, independentemente das convicções religiosas ou de ateísmos?
Não te parece que a verdadeira questão é: "O Homem tem futuro?".
No De Rerum Natura, comentei o post do prof. Carlos Fiolhais, com esta reflexão: «Apesar de todos os avanços que a ciência venha a conhecer, de todas as descobertas e provas que derrubem os mitos e alterem todos os princípios teológicos; mesmo que as religiões sejam completamente extintas, mas se o livre arbítrio se mantiver, então, a ideia de Deus, manter-se-ha no coração do Homem.»
No debate, as opiniões centraram-se na fé e na ação das religiões no campo da evangelização e do fortalecimento da fé, como forma de converter os ateus, os incrédulos da Sua existência, da Sua presença. Eu entendo que a dificuldade do homem, não reside na falta de crença, mas sim, na incapacidade para ver e compreender a partir de um determinado nível dimensional.
Este raciocínio que não coloco como irrebatível, leva-me a dizer que as "catalogações", as definições que cada grupo designa outro grupo, é que não agilizam, não descomprimem, dificultando o entendimento e a aceitação.
Deus/Homem tem futuro? Claro que sim, ambos são um e a mesma pessoa e o Homem, sempre acreditará nele próprio, porque vem do Homem, porque carrega uma bagagem genética com milhões de anos, a qual tem feito com que se mantenha, com que seja um ser com sustentabilidade logo, um ser que muito para além de acreditar, sabe que pode. Então, a questão não se resume a ter fé, ou em acreditar, mas sim em saber que pode, em saber que é possível.

rainbow disse...


Bom dia:)

Bart

Acabei de ler o seu comentário e as questões que coloca, muitas das quais concordo, mas vou deixar para mais logo a minha resposta. Espera-me um dia longo.


andorinha disse...


Bart,

Saliento já que ainda não vi o programa. Mas o teu comentário suscitou-me algumas questões.
"O Homem tem futuro?" perguntas.
Na minha opinião sim, apesar de todos os disparates que vai fazendo.
Deus também terá futuro porque haverá sempre quem creia.

Uma coisa que sempre me fez confusão e uma das razões pelas quais também 'desacredito' em Deus, é a multiplicidade de deuses que existem.
Nasci aqui, sou católica. Na verdade sou agnóstica, mas fui baptizada, fiz a catequese, tudo isso. Se nascesse noutro ponto do planeta seria provavelmente budista, muçulmana, etc...
Então qual o Deus que é o "certo"?
Ou o conceito é o mesmo e o nome é que varia?

"...mesmo que as religiões sejam completamente extintas, mas se o livre arbítrio se mantiver, então, a ideia de Deus, manter-se-ha no coração do Homem.»"

Não creio que as religiões alguma vez sejam extintas. Como? Por decreto?

Mas não entendi porque dizes que se o livre arbítrio se mantiver mantem-se tb a ideia de Deus.
Como assim???
Nós somos e seremos sempre os responsáveis pelas nossas decisões, pelos caminhos que trilhamos. Não acredito em determinismo, fado ou fatalismo.
Mas em que é que isso contribui para a ideia de Deus?

rainbow disse...

Aqui estou de novo:)

Bart

Começo por dizer que isto nada tem a ver com o teu comentário, mas quando estava a ver os "Prós e Contras" veio-me à mente que uma emissão com este tema nunca poderia ter sido concebido na época da ditadura.
Claro que num contexto social completamente diferente, uma emissão assim gera muita audiência, não sejamos ingénuos. Mas se todos os males fossem esses, estávamos nós bem.
Depois, quero dizer que sou agnóstica.
Posto isto, vamos ao que interessa:)
O título desta emissão está relacionado com o livro do padre Anselmo Borges "Deus ainda tem futuro?", que como o próprio explicou é uma provocação, e que no fundo o que está subjacente é questionar se no futuro a Humanidade ainda acreditará na existência de Deus.
Ninguém de facto deu uma resposta conclusiva, pois quase todos os intervenientes no debate demonstraram humildade face a questões que ninguém pode ao certo saber. Com excepção para o representante da Associação dos Ateus que, apesar de ter razão em relação a muitas injustiças e atrocidades cometidas em nome das religiões, demonstrou um "fundamentalismo" que como disse o padre Anselmo Borges, citando alguém: "Os ateus aborrecem-me, porque estão sempre a falar de Deus".
Ninguém pode honestamente prever como será a Humanidade no séc.XXII, XXIII e por aí fora. Ou mesmo se ela continuará a existir. Nós não estaremos cá para o testemunhar.
E só o Professor Carlos Fiolhais, que admitiu as limitações da ciência em relação a matérias que a transcendem, contextualizou a Humanidade num planeta cheio de problemas ambientais, e até mencionou o soberbo filme "Interstellar", em que o Homem viaja pelas estrelas em busca dum novo lugar para viver, porque na Terra isso vai deixar de ser possível.
Por esse motivo e por muitos outros, concordo contigo quando colocas uma questão mais importante: há futuro para a Humanidade?
Eu, sendo uma optimista, quero acreditar que sim. E deixo um excerto dum livro que adorei,"O Bailado das estrelas":
"E o novo bailado dizia: Ser humano é isto: ver a futilidade existencial absoluta de qualquer acção, de qualquer luta - e agir, e lutar. Ser humano é isto: eternamente tentar chegar para além da possibilidade de alcance. Ser humano é isto: viver eternamente ou morrer a tentar. Ser humano é isto: lutar em face da certeza do insucesso.
Ser humano é isto: persistir".

Bea

Até a FCF no final do programa, me pareceu genuinamente feliz por ter conduzido uma emissão com aquela qualidade.

Andorinha

Então e o dia 25 próximo não é feriado?:)

Bom fim de semana a todos

Bartolomeu disse...

Andy; ainda nada me fez concluir se existe fé, desejo de que aconteça, ou, certeza de que é possível.
A frase emblemática de Obama, quando tomou posse do cargo de presidente dos UE, não se resumia a uma forma de motivar, de congregar o povo americano em torno de um ideal. "Yes We Can!" pode a meu ver enquadrar-se no mesmo contexto de fé, de crer e, extrapola o simples sentido de acreditar. Vai mais além, entra nos campos do esoterismo e da metafísica é, uma excessão do Homem a si mesmo.
Eu não sei qual é o deus certo, não sei se os deuses são vários e se subordinam às definições que as religiões lhes atribuem se se caracterizam à imágem daquilo que é o entendimento humano.
O livre arbítrio, sim, define-se e subordina-se a uma vontade que é a do seu ator mas, essa vontade é prévia e subtilmente sujeita a um escrutínio. A origem e origem do ato, é algo a que não te sei responder, porém é confirmado.

Bartolomeu disse...

É como referes Rainbow, tudo é subjectivo e qualquer discussão de hoje, teve início à milhares de anos e irá manter-se certamente, até que uma nova consciência humana surja e com ela a capacidade de ter a perceção de outras dimensões, não só cósmicas como humanas. Aquilo que me intriga e ao mesmo tempo me causa espanto, é o facto de discutirmos e fazermos valer convicções acerca de Deus, como se possuíssemos um completo conhecimento da sua pessoa, das suas caracteristicas e configurações, mas continuarmos a desconhecer inteiramente o ser humano, apesar de as suas características, falibilidades, anseios, serem semelhantes.

andorinha disse...

Rainbow,


Lindíssimo esse excerto! Adorei!
Vou levá-lo comigo:)

Acreditas que quando li 25 pensei no 25 de Abril? loooool
Nunca associo o Natal a feriado, agora é que reparo nisso!

Bart,

"O livre arbítrio, sim, define-se e subordina-se a uma vontade que é a do seu ator mas, essa vontade é prévia e subtilmente sujeita a um escrutínio. A origem e origem do ato, é algo a que não te sei responder, porém é confirmado."

A vontade é prévia e subtilmente sujeita a um escrutínio...

Por parte de quem? Eu sei que sou chata:), mas gosto imenso de discutir questões filosóficas.
Fui googlar mas encontrei imensa coisa e estou sem tempo ou neurónios para ler lol

Isto dava uma boa conversa frente a um café e um pastel de Belém:)

Vou...fiquem bem.

Bartolomeu disse...

Andy, a sugestão de nos sentarmos a uma mesa de café e degustarmos um pastel de nata é boa, mas não seria o lugar mais adequado para trocarmos opiniões acerca desta matéria.
Para isso, sugeria um lugar mais calmo, mais natural e confortável; o cimo de um monte, aquecidos por uma fogueira, ou uma certa gruta que conheço, na Serra da Arrábida, voltada para o oceano...
Os intervenientes no debate do programa "prós e contras" citaram mais de uma vez, Spinosa. Também Einstein o citou; talvez tomando-o por exemplo, os eminentes convidados o fizeram. Ou então, não, e entenderam fazê-lo por concordarem com a imagem de um deus diferente daquele que os evangelhos desenham.
Bom, mas se o nosso encontro se desse num dos locais que propuz, e o tema de discussão acertado fosse, o tempo/espaço, então eu, exigiria a presença, para além de nós dois, do Prof, Machado Vaz e da Rainbow.
;)
A este colóquio, iríamos convocar Heráclito, Aristóteles, Baruch Espinosa, Fernando Pessoa e o Padre António Vieira.
Dando início às trocas de opiniões, ouviriamos com certeza a Espinosa dizer:-«Deus é a única substância existente, conhecida por seus atributos. Os processos da realidade são pré determinados e a liberdade dos nossos atos é ilusória devido à ignorância das causas que nos movem, por isso a felicidade máxima do homem é o conhecimento de Deus».
Confesso-te, Anfy; gostaria de ter ouvido naquele debate, qualquer uma daquelas individualidades presentes, apróximar-se desta reflexão.